Justiça é uma palavra gasta
hodiernamente. É comum se fazer chacota do símbolo que a representa – uma
mulher com uma balança na mão esquerda, com uma espada na mão direita, com os
olhos vendados pisando numa cobra.
A simbologia denota
equilíbrio e igualdade de decisão, sem que haja tendência para “a” nem para “b”
(balança); indica força e coragem para aplicar a lei (espada), imparcialidade,
pois todos são iguais perante a lei. Assim, a justiça deve aplicar a sentença sem “enxergar” o beneficiado, pois sua função é ser justa (olhos vendados) e por isso que aparece esmagando a cabeça da serpente. Se
porém aqui na Terra está desacreditada, há
A VERDADEIRA
JUSTIÇA
O termo justiça já se banalizou a ponto
de se usar o trocadilho: “a justiça é cega!”, insinuando que não enxerga de
fato, pois comumente “erra” pendendo a balança para as conveniências, pesando a
espada contra o menos favorecidos e fazendo “vistas grossas” para os delitos
dos poderosos, esquecendo-se da recomendação do grande Mestre Jesus.
Quanto mais o tempo passa, mais o senso
de justiça se perde, a injustiça se incorpora e a aceitamos sem nos darmos conta
dessa assimilação cultural. Todos os dias lemos, vemos e ouvimos o ecoar da
inversão de valores, produzindo uma legião de “justiceiros” que, cansados de
esperar pelas autoridades constituídas, fazem “justiça com as próprias mãos”
usando a lei de Hamurábi.
Diante do quadro de alto índice de
corrupção, violência, injustiça e impunidade ao longo da História, inclusive na
própria igreja de Deus, a mente humana tem certa dificuldade em entender o que
vem a ser justiça, e, de certa forma, é “impedida” de alcançar sua definição na
essência e de compreender o verdadeiro sentido desse termo em sua plenitude.
Como chegar a um denominador comum se a
mente humana é limitada? Como conceber um Deus totalmente justo se o Homem,
como ser falho, tem sido incapaz de fazer justiça? Como entender esse atributo
divino se “não há palavra que traduza” seu verdadeiro significado?
Na verdade, somente pela fé é possível ter
noção do que representa JUSTIÇA. Não há vocábulos que a expliquem, muito menos
que a traduzam. Os próprios tradutores das Escrituras admitem a dificuldade em encontram
palavras para definir justiça, mas optaram por: tsedeq e tsedãqãh.
As traduções mais antigas fundamentam
sua compreensão na Septuaginta com a tradução dikaiosune (“justiça”) e
Vulgata iustitia (“justiça”). Nessas traduções, a relação legal dos
seres humanos é transferida a Deus em sentido absoluto na função de
Legislador e com as perfeições da “justiça” e retidão.
Os exegetas têm gastado muita tinta no
esforço de entender contextualmente as palavras tsedeq e tsedãqãh.
(VINE et al, 2009, p. 163, grifo nosso).
Essa traduções usam o termo “sentido absoluto” para designar a
justiça divina, ou melhor, adaptam o significado legalista da palavra justiça e
a transferem para a função do Legislador. Isso indica que a justiça divina está
descrita no sentido lato da palavra, ou seja, no seu mais alto grau de
abrangência, de uma feita que a legislação aplicada por Deus é perfeita, pois
Ele julga com retidão e sem falha.
[...] o conceito de justiça, nos dias
de hoje, não tem muito a ver com o que a Bíblia quer dizer sobre esse tema.
Enquanto praticamos uma justiça forense, isto é, de tribunais, a Bíblia revela
uma justiça pastoral. Enquanto vemos a justiça caracterizada pelas togas e
martelos, a Bíblia revela uma justiça distinguida pelo cajado do pastor [...]
Enquanto nós temos uma justiça baseada em códigos de leis, a Bíblia mostra uma
justiça fundamentada no amor, na bondade, na compaixão e na busca da
integridade de vida para todos (SIQUEIRA apud FATAP, 2009, p. 97).
A língua é dinâmica e certas palavras se
“perdem” no tempo; o que ontem tinha um significado, hoje pode ter outro e
assim elas evoluem... O mundo progrediu, o desenvolvimento chegou muito rápido;
com as mudanças, justiça passou a ser sinônimo de “dureza”, esse sentido
forense nos limita a concebê-la apenas como “peso da lei” que envolve a razão
não a emoção.
Assim, retomando o símbolo da justiça,
podemos dizer que Deus é a balança perfeita que não pende para um lado nem para
outro; a espada que faz cumprir sua Palavra; e a venda que manifesta a
plenitude de Seu poder e de toda a Sua justiça.
O Homem mortal tende ao favoritismo e,
comumente, “passa a mão na cabeça” dos que lhe são mais chegados e segundo os
interesses que lhes convêm, mas Deus é totalmente justo, por isso “sempre age
segundo o que é justo, e que ele mesmo é parâmetro definitivo do que é justo”
(GRUDEM, 2009, p. 150). Ele é o espelho no qual devemos nos mirar.
Por mais que não consigamos explicar o
conceito de justiça, nossos corações o aceitam, sendo solidificado em nossas
mentes como verdade inquestionável. Embora não tenhamos como traduzir esse
atributo divino e sintamos dificuldade em entender sua essência, sejamos gratos
porque Ele é totalmente justo e perfeito para aplicar Sua justiça sobre o
universo e nos ensinar, por meio de suas ações o que é a verdadeira justiça.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA.
Português. Bíblia de Estudo de Genebra. Tradução Revista e Atualizada de
João Ferreira de Almeida. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
FATAP.
Teologia Sistemática – A formação da Bíblia e a Doutrina de Deus. São
Paulo: Gráfica e Editora A Voz do Cenáculo, 2009.
GRUDEM,
Wayne. Teologia Sistemática Atual e Exaustiva. São Paulo: Vida Nova,
2009.
VINE W E, UNGER,
Merril e WHITE JR, William. Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das
Palavras do Antigo e do Novo Testamento. 11 ed. Tradução de Luís Aron de
Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.