Guilherme Pinheiro é um grande amigo,
um "paizão" na verdade, durante vinte anos ele foi presidente da Região
Norte em nossa igreja (Adventista da Promessa). Em sua despedida, tive a honra
de organizar o cerimonial e de escrever, em sua homenagem, uma crônica como se
fosse ele passando o cajado de sua gestão para o próximo condutor dessa missão.
Hoje, quero registrá-la aqui em
comemoração aos 60 anos da nossa igreja na Região Norte, nascimento esse que,
segundo suas palavras, teve o prazer de embalar...
BARCO ESPERANÇA
O Barco Esperança está ancorando, mas
antes de pararmos no porto seguro, revivamos alguns momentos dessa viagem:
Em 1988, a viagem a
qual denominei: Barco da Esperança, iniciou-se.
Nunca imaginamos que ela seria tão
longa. Eu, Guilherme Pinheiro, peguei o timão com confiança, pois tive certeza de
que Deus o seguraria comigo; tive também a ajuda providencial do meu imediato, o
sogro e amigo Pr. Santana que pelejou comigo as lutas do mar bravio e da
calmaria dele.
A missão veio direta de São Paulo, de
um outro grande amigo e companheiro de mar, Pr. Miguel Correa, como somos todos
marinheiros de Deus e estamos sempre às ordens para navegar, aceitei o desafio
de comandar o Barco Esperança.
Na primeira reunião com a tripulação,
lancei o lema “A união faz a força”, afinal, nunca havia pilotado nem ao menos uma canoa
e agora precisava comandar um grande navio. Essa tripulação me ajudou bastante e
vez por outra, ela se renovava, mas eu estava sempre ali no comando. Louvo a
Deus por ter colocado pessoas certas no convés, na popa, na proa, nas
cabines... e “unidos vencemos”.
O barco seguia em frente, atravessou
oceanos, desbravou mares e a cada nova lua, firmava-me na certeza de que o Deus
dos mares havia me colocado nele, senão fosse assim, jamais teria tido sucesso
algum, pois as águas nos reservam muitas surpresas, suas ondas e marés podem
nos sucumbir, fazendo-nos naufragar.
Deus também foi muito bom comigo,
dando-me uma adjutora leal e confiante, nunca me deixou esmorecer nem cochilar
no timão, durante esses cinco mandatos, exatamente vinte anos de gestão, só na
Região Norte, carregamos juntos o peso e a responsabilidade de comandar um
barco desse porte.
Ah, CELINA, como você foi importante! Ah,
meus filhos e meus netos amados, vocês também foram fundamentais! Nas horas
mais difíceis de um lobo do mar, por mais que sua tripulação o ajude, é na
família que ele encontra descanso para ancorar; a família é o nosso verdadeiro
porto seguro.
Não tenho a pretensão de me parecer
com Deus, embora sejamos sua imagem e semelhança, mas quando se está no
comando, usamos sempre os “haja”. Meu haja mais significativo foi: “haja
separação dessas águas” e Deus me concedeu a graça de repartir as águas em
Região Amazônica e do Baixo-Amazonas. Isso aliviou minha lida, mas não a fez
menos difícil. O mar é traiçoeiro e muitas lutas vêm...
Nessa viagem perdi companheiros
importantíssimos em maremotos e tempestades, porém o baque mais duro das ondas
violentas foi, sem dúvida, a perda do meu filho e sucessor, GUILHERME JUNIOR. Impossível
não me emocionar nesse momento!
Superamos essa prova e tantas outras
porque temos Deus e acreditamos na redenção e na ressurreição, mas a saudade é
eterna. Durante meus primeiros mandatos, eu o ensinei a pilotar. Ele estava
sempre comigo observando minha forma de conduzir a tripulação, às vezes dava
opinião e quando minha mão fraquejava, amparava-me como se eu fosse o filho...
O Junior era assim, mais que um companheiro; estava sempre atento à minha
maneira de comandar o Barco Esperança e aprendia com facilidade, pois estava no
seu sangue o prazer de servir a Deus pilotando e desde cedo ele aprendeu a
lidar com o leme.
É... aprendemos muito com as
adversidades e elas às vezes deixam marcas profundas e difíceis de cicatrizar;
do mar tiramos nosso alimento, jogamos a rede para pescar almas para o reino de
Deus e ele nos tira amigos, parentes e irmãos.
Não posso dizer, como Deus, que tudo
que fiz vi que era bom; minha gestão teve altos e baixos; reconheço que houve
falhas e algumas coisas fugiram do meu controle, todavia trabalhei
incessantemente para superá-las. Creio que foi muito bom o investimento feito
com os novos templos, a 1ª igreja e o escritório regional, o amparo legal que
os pastores passaram a ter, enfim, olhando para trás, percebo que quase tudo
que fiz foi bom.
Mas agora, deixo aos meus companheiros
e sucessores um legado de boa administração, empreendedorismo e honestidade;
acredito que não sou insubstituível, o Barco Esperança vai ancorar e em breve
estará navegando novamente nesse marzão de Deus, sob o comando de outro
marinheiro, porém tenho certeza de que serei sempre lembrando de diversas
maneiras, uma delas é ter sido o único comandante a pilotar o mesmo barco por
vinte anos.
Dizem que deixarei um grande vazio,
mas nosso piloto maior – o Deus dos mares, comandante dos comandantes – estará
com quem quer que esteja à frente dele e não deixará que esse vazio possa
atrapalhar Sua obra e o navegar do barco. Já me sinto cansado e só tenho
vontade de dizer como Paulo: “terminei a carreira e guardei a fé”.
Muito obrigado meu Deus, muito
obrigado irmãos em Cristo!
Despeço-me com um até logo à
tripulação, aos companheiros, aos parceiros e a todos dessa região abençoada
por Deus. Vou ficar aqui neste porto e rogo a Deus que continue com vocês e os
abençoe e os guarde e faça resplandecer o Seu rosto sobre vocês e dê a todos a
cada dia a Sua bendita paz!