DICAS DA SEMANA

quinta-feira, 20 de março de 2014

E por falar em Gramática...



Na postagem anterior, dediquei um poema da nossa Antologia Eco Poético pra vocês. Segue um artigo para reflexão sobre o preconceito que temos em relação à língua e como nos enganamos em acreditar que ensino da língua é igual a ensinar gramática (ver ANTUNES, BAGNO, POSSENTI, etc.).





Preconceito linguístico
um pecado (da) capital

Oi, pessoal...
Trouxe mais uma questão sobre a língua portuguesa pra nós avaliarmos.
Vocês acreditam que o preconceito mais latente em nossa sociedade não é mais o racial?! Também não tem nada a ver com homofobia... Na era do bullying, o preconceito que se prolifera nas grandes cidades é o linguístico.

Um grupo muito grande de curiosos da língua (e outros tantos profissionais das diversas áreas que não sei por que “metem o nariz onde não são chamados”) se acha “dono da língua” (e da verdade); acredita em um falar certo e em um errado, além de usar outros adjetivos pejorativos aos que considera erro: língua tosca, feia, de jeca...
Um absurdo!

Pessoas de todas as classes admitem que um falante nativo (no caso do português) fale “errado” sua própria língua. 
Como isso é possível?

Gostaria de ser esclarecida acerca do assunto, preciso que me expliquem sobre esse fenômeno, afinal estudei anos, fiz diversas pesquisas nessa área de atuação e não “esbarrei” em nenhuma “língua portuguesa errada”.

Precisamos entender que a língua EVOLUI (nunca regride ou degenera como dizem alguns desinformados preconceituosos) e com a evolução vêm as mudanças (geralmente a longo prazo). O que era ontem ecclesia passou a ser igreja; plaga > praga; sclavu > escravo[1].
Como podemos discriminar quem diga “frauta”, “pranta”, “ingrês” se por meio desse fenômeno a língua portuguesa evoluiu?

E se a história não os convenceu, pensem em um dos mais famosos escritores portugueses, considerado artista ímpar na arte de escrever, o poeta Luis de Camões, a quem até hoje os portugueses prestam sua reverência pela escrita “correta”. 
Camões, em sua imortal obra “Os Lusíadas” utilizou as mesmas palavras que acabamos de citar:[2]
“E não de agreste avena, ou FRAUTA ruda”  (canto I, verso 5)
“Era este INGRÊS potente, e militara” (canto VI, verso 47)
“Nas ilhas de Maldiva nasce a PRANTA” (canto X, verso 136)

Isso é somente uma parte do que podemos perceber de evolução, exemplos que os ignorantes no assunto não tomam para explicar a língua que vive em função de seus usuários; são os falantes que determinam o que é “normal”, o que é norma... não um livro arcaico ou uma espécie de bíblia linguística que os “dinossauros” da linguagem carregam embaixo do braço e fazem dela um livro de cabeceira.

A dinamicidade da língua é algo fabuloso e já é tempo de abrirmos a mente e entendermos o processo da linguagem antes de sairmos por aí tachando de certo e errado aquilo do qual não temos conhecimento.
E tenho dito! 








DICA DE LEITURA:
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico - o que é, como se faz. 32. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.







[1] O fenômeno da troca do “CL” por “CR” ou qualquer outro par assim constituído, é natural desde a transportação do latim para o português. Hoje há quem fale “frauta”, “pranta”, “ingrês”.
[2] Ler as obras de Bagno, sobretudo, a indicada acima.






6 comentários:

  1. Quero registrar minha leitura do texto:
    ANDRÉ DOUGLAS
    Texto muito bom.

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  2. Esqueci que tinha que comentar.
    Parabéns pelo blog.
    Maíra Conor.

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    1. Oi, querida... desculpe-me, não havia visto sua postagem. Já registrei, ok? Espero que tenho apreciado o meu blog!!! A gente se vê na sala de aula...

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