Existem datas que não podem passar em branco e trazem a nossa memória doces recordações.
Provavelmente, isso o fez pensar em
algum momento marcante de sua vida do qual você nunca se esquece. Quando pensei em
escrever esta crônica, um filme passou na minha cabeça e... ei-la.
VOCÊ - MINHA CURA!
Era 8 de abril de 1908...
De dentro do quarto pude ouvir a tarde
de verão soprando lá fora, embalando meus sonhos de menina-moça a encontrar o
príncipe que faria parte do meu conto de fadas e me levaria para o seu castelo
a fim de que fôssemos "felizes para sempre!".
Não pude fitá-lo naquele dia;
precisava esperar o momento oportuno para transformar aquela imagem imaginária em
realidade. Nesse tempo, nem sempre era dado a conhecer às damas aquele que seria
seu par na contradança de uma vida inteira. No entanto, ao ouvir sua voz
delicada e macia pude contemplar sua alma de menino e sua determinação de homem.
Era um som melodiosamente bem marcado
pelo compasso do pulsar do meu coração que disparava rumo ao futuro onde
viveríamos o resto dos nossos dias. Cada palavra era embebida feito um cálice
de vinho da melhor qualidade e apreciado como um néctar dos deuses.
A conversa foi longa! Do outro lado da parede podia imaginar
nós dois entrecortando os demais pares nos salões festivos da família no bailar
suave das valsas ou no agitar de uma polca selecionada somente para nós dançarmos.
Seu rosto pouco importava, poderia ser
parecido com seu irmão que gentilmente me cortejara no meu último baile de
donzela, mas não havia qualquer chance para ele, pois era pra você que eu
estava destinada.
Meu pai me colheu do céu feito estrela
reluzente, no auge da majestosa primavera, e entregou a você para que cuidasse
daquele seu tesouro incalculável pela eternidade do infinito. Passei horas procurando imaginar como
seria seu rosto e por mais que tentasse, nunca chegaria à beleza de sua face que refletia um espírito puro
e cândido.
Embora fosse sua filha querida e estivesse sempre rodeada de mimos e proteção, não entendia a pressa em me fazer mais uma senhora dama da sociedade
belenense. Isso acontecera desde meu último exame médico; não sei ao certo o
que tinha, mas papai e mamãe disseram para não me preocupar...
Ouvi o doutor falar em "blastoma
maligno". Achei um termo um tanto desagradável, porém, como não havia com
que me inquietar, continuei no sonurno de minha juventude impávida com as
quimeras que ainda povoavam minha mente.
Realmente, nunca soube exatamente o
que tive, mas o que quer que fosse, meus pais entenderam que dar minha mão em
casamento a você foi a melhor coisa que aconteceu em suas vidas, pois diziam
que o seu amor me curou dos males do corpo e da alma desde que me tornei sua, e
a partir de então, a felicidade passou a ser minha morada.
Oh, dia 8 febril!
Bendito sejas entre todos os dias do
ano, pois nele Deus entregou a ambos a chave de nossos corações e por meio dele
nos uniu com laços eternos de amor.